...não digais muitas palavras... (Mateus 6, 7-15)
O Fidelíssimo não obedece ao novo acordo ortográfico.

domingo, 31 de agosto de 2008

Portugal não é isto.

Os meus filhos devem achar-me louco. A imagem que eu lhes transmito de Portugal contrasta completamente com a realidade transmitida pelos media. E isto mostra o quanto se esconde Portugal e o quanto se desvia do substancial, do importante, do relevante. Mas eu recuso este Portugal. Porque Portugal, na verdade, não é isto. É isto que eu digo aos meus filhos. Portugal não é o que temos e nos querem dar. A escola actual ensina, mas não educa. Informa, mas não entusiasma. Debita quilos de massa escrita, mas não faz sonhar. Porque Portugal está amorfo, triste, desalmado, falhado. Felizmente, eu não me demito da função de educador e de formador. Aquilo que transmito aos meus filhos é um Portugal pioneiro, destemido, glorioso. E suscito neles o orgulho Pátrio e o privilégio de se sentirem Portugueses. E essa faculdade é um rasgo de sorte. Nesse sentido, eu não tenho outra hipótese senão recorrer ao passado. Eles crescem entre um Portugal fútil sustentado pelos media e um Portugal fantástico, sustentado pelos pais. Mas Portugal é um só. Esse que desejamos ser devolvido aos Portugueses. Pais e educadores deste País, não nos resta outra solução que formarmos nós próprios os nossos filhos. Se queremos uma educação de valor. Se queremos formar uma Nação próspera e segura no mundo globalizado. Por todas as vias visíveis a sociedade contemporânea portuguesa é uma vergonha. É um péssimo espaço para o crescimento e aculturação de uma criança. A televisão portuguesa é um exemplo notável: na mesma hora, enquanto em França divulgam um programa de história militar medieval para um segmento jovem, em Portugal passa, nessa hora, e nas intermináveis horas seguintes, o maior fenómeno da cultura portuguesa actual: Cristiano Ronaldo. Como é que é possível passarmos meses a fio, a sermos bombardeados, diariamente, pela comunicação social, transmitindo este Sr. e as suas namoradas?! Passamos horas nas tertúlias cor-de-rosa a questionar porque é que o Sr. Cláudio Ramos ainda não foi visto na Praia este verão, ou a debater o beijo que o Herman deu na boca de não sei quem, e as sucessivas separações da Elsa Raposo, e os vestidos de gala das Tias de Lisboa, as traições, as mentiras, os amantes, etc. No lugar de constituir um agente formador e transmissor do legado histórico, cultural e social, na generalidade, a televisão portuguesa é um espaço de atraso, de futilidade, de estupidez. A política noticiosa pretende gerir o nosso entusiasmo, dando sensacionalismo como Roma dava circo. Noticiam realidades pelo critério do tema da moda: Durante o processo Casa Pia, havia pedófilos por todo o lado, hoje não são notícia; Quando Maddie desapareceu, muitas outras desapareceram naqueles tempos…; Quando uma Professora faleceu de cancro após ter sido obrigada a trabalhar, logo outras professoras foram notícia pela mesma condição…e tudo isto é realidade. Mas a realidade é isto todos os dias, não acontece por fases! Se ao menos fosse possível atribuir o tempo de antena destas tertúlias cor-de-rosa a todas as associações culturais do País, a organizações de carácter humanitário, de acção social…sempre se faria mais por Portugal. E não me venham dizer que as pessoas precisam de lazer, pois lazer não é futilidade, não é tempo perdido. Não será possível ter lazer na televisão com alguma qualidade intelectual? Pelo seu lado, os programas infantis, na sua maior parte, estimulam a violência e não a imaginação e a fantasia. Tudo serve para destruir e para conquistar o mundo…Os nossos governantes subestimam o poder sociológico da televisão…sob o ponto de vista normativo do comportamento social. Será necessário lembrar que o governo brasileiro interferiu no guião de algumas novelas? E não confundamos com censura. A realidade televisiva pode mesmo ser altamente nociva. Gostaria que tanto a televisão como a escola, transmitissem aos meus filhos o que realmente importa e o que realmente os forma como dignas pessoas humanas, respeitadoras, trabalhadoras em prol do bem-estar comum. Mas não como o fazem agora em Portugal. Formam cada um por si, fugindo como se pode às responsabilidades nacionais, cuspindo para o chão, sem quaisquer referências do que foi Portugal no passado, sem saber de onde vimos e sem saber para onde vamos; são cúmplices de um País onde apenas se fala de futebol, onde a notoriedade é medida pela quantidade de vezes que se aparece, mesmo quando não faça nada pelo País e pelos outros; um País onde os muralhas que o guardaram servem muitas vezes de casa de banho, vergonhosamente desrespeitador dos nossos antepassados; hoje forma-se um povo gordo, de cerveja e de bola, de praia ao Domingo, sem leitura, sem modos, sem nada. Haja vinho e pão sobre a mesa. E o País que se aguente. É, aliás, isto que temos para pôr em cima do bolo dos 100 anos da ilegítima república portuguesa: analfabetismo; futilidade; mediocridade, precariedade. Ignorância. E o pior de tudo: desinteresse generalizado. A Família tem um papel fundamental na formação dos filhos, se quisermos que passe a Portugalidade. De outra forma, ela não passará. Eu gostaria que os meus filhos não vivessem dois Países, mas um: Portugal. Mas Portugal não é isto. Onde, então, entusiasmar e envolver os meus filhos no projecto Portugal? Eu sei e trabalho para conseguirmos esse caminho…

Touros ao Rossio!

Vejam-me esta relíquia. Uma fotografia tirada em 1874, ainda do tempo de Portugal, durante um espectáculo tauromáquico realizado na praça de touros de Aveiro, situada no Largo do Rossio. Hoje, o Rossio é um agradável espaço verde e a praça de touros já não existe...admito que a ria e as salinas contrastariam um pouco com os touros e os cavalos, mas para um aveirense de gema e, simultaneamente, cheio de aficción, uma praça de touros ali ao Rossio seria sopa no mel, não?
(Foto Henrique Ramos)

sábado, 16 de agosto de 2008

Reabriu a Sé de Aveiro.

Nós somos as pedras que verdadeiramente necessitam de constante restauro. Mas sem prejuízo de cuidarmos daquelas que edificam, materialmente, a Casa do Senhor. Reabriu a Catedral de Aveiro, após cerca de quatro meses de obras. E eu fui lá ver. É sempre altamente gratificante verificar preservado o nosso património..."A Diocese de Aveiro, sufragânea da Arquidiocese de Braga, foi criada pelo papa Clemente XIV, mediante o breve Militantis Ecclesiae gubernacula, de 12-04-1774, a pedido do monarca D. José I, abrangendo uma área destacada do território da Diocese de Coimbra; em 24-03-1775 deu-se execução ao documento pontifício. O rei ficou com o direito de padroado. A catedral foi instalada na igreja da Misericórdia e, mais tarde, em 1830, na igreja que fora do extinto Recolhimento de S. Bernardino. Nas suas primeiras seis décadas, teve apenas três bispos. Em 01-04-1845, após alguns anos de certa confusão canónica no governo eclesiástico, o arcebispo de Braga foi também constituído no cargo de administrador apostólico da Diocese, para a qual nomeou sucessivamente vigários gerais ou governadores - o que aconteceu até à sua extinção pela bula do papa Leão XIII Gravissimum Christi Ecclesiam regendi et gubernandi munus, de 30-09-1881, executada em 04-09-1882. Pela bula Omnium Ecclesiarum, de 24-08-1938, o papa Pio XI restaurou-a, dando-lhe novos limites, com oitenta e duas freguesias de dez concelhos, desmembrados das Dioceses de Coimbra (Águeda, Anadia, Aveiro, Ílhavo, Oliveira do Bairro e Vagos), do Porto (Albergaria-a-Velha, Estarreja e Murtosa) e de Viseu (Sever do Vouga); foi então elevada a catedral a secular igreja do extinto Convento de S. Domingos e matriz da Paróquia de Nossa Senhora da Glória. A sentença executória da restauração deu-se em 11-12-1938. Da antiga à actual Diocese. A Diocese de Aveiro, com a sede na cidade do mesmo nome, foi criada em 12-04-1774 pelo papa Clemente XIV (breve Militantis Ecclesiae gubernacula), nos termos em que lhe fora solicitado por el-rei D. José I, em 28-09-1773, a fim de se fazer uma partilha da “disforme extensão do Bispado de Coimbra”, separando-se ao norte “a comarca de Esgueira para nela constituir uma nova diocese, a que sirva de cabeça a cidade de Aveiro, constituindo a mesma comarca o território da nova diocese” (ARQUIVO DO VATICANO, Processo Consistorial nº 166, fls. 41,v-42). Esta comarca ou provedoria de Esgueira, nos finais do séc. XVIII, agrupava 71 freguesias, com mais de 20 000 fogos e cerca de 75 000 habitantes. Para executar o breve apostólico, o papa escolheu o núncio Mons. Inocêncio Conti, com o poder de subdelegar; efectivamente, presidiu ao acto o arcebispo titular de Lacedemónia e vigário geral de Lisboa, D. António Bonifácio Coelho. A cerimónia realizou-se em 24-03-1775 na igreja da Misericórdia, também elevada a catedral. Seguiram-se três bispos: 1) D. António Freire Gameiro de Sousa (1774-1799)2) D. António José Cordeiro (1801-1813) 3) D. Manuel Pacheco de Resende (1815-1837)4) Dr. António de Santo Ilídio da Fonseca e Silva (nomeado pelo Governo Português, mas não confirmado pelo Vaticano)Por decreto de 26-02-1840, o Governo de D. Maria II ainda nomeou e apresentou ao papa o beneditino portuense Dr. António de Santo Ilídio da Fonseca e Silva para prelado de Aveiro, o qual, sem esperar a confirmação pontifícia - que nunca obteve - entrou na posse da diocese, em 18.10.1840. Como tal situação anti-canónica se arrastasse, a Santa Sé em 01-04-1845 (breve Cum Episcopatus) nomeou o arcebispo de Braga também administrador apostólico de Aveiro; a partir de então, vigários gerais ou governadores do bispado, designados sucessivamente pelo metropolita primaz, sustentaram aqui o governo eclesiástico. Apesar de alguns esforços contrários, apressou-se o enfraquecimento da diocese e acelerou-se o processo da sua extinção - este enquadrado no plano dos governos liberais em reduzir o número dos bispados no Continente. Ao cabo de longas negociações, o papa Leão XIII subscreveu a bula Gravissimum Christi Ecclesiarum regendi et gubernandi munus, de 30.09.1881, com que suprimiu as dioceses de Aveiro, Castelo Branco, Elvas, Leiria e Pinhel. A execução da bula foi confiada ao cardeal-bispo do Porto, D. Américo Ferreira dos Santos Silva, que, em 04.09.1882, assinou a respectiva sentença. O rio Vouga ficou sendo o limite geográfico entre as Dioceses de Coimbra e do Porto, salvo excepções de lugares de freguesia; a paróquia das Talhadas, no concelho de Sever do Vouga, foi transferida para a Diocese de Viseu. Restauração da Diocese. Não se conformaram muitos aveirenses com a supressão da diocese; assim, quase imediatamente, principiou um movimento em ordem à sua restauração, que mais se acentuou a partir de 1924. Após porfiados trabalhos e generosas dedicações, em que se destacou o aveirense D. João Evangelista de Lima Vidal, a diocese acabaria por ser reconstituída, com novos limites, pelo papa Pio XI, (bula Omnium Ecclesiarum, de 24-08-1938, executada em 11-12-1938); a igreja citadina de Nª Senhora da Glória que, desde 1423 até 1834, fez parte do conve. nto dos padres dominicanos, foi elevada à categoria de catedral. Desde então teve os seguintes bispos: 1) D. João Evangelista de Lima Vidal (1940-1958)2) D. Domingos da Apresentação Fernandes (1958-1962)3) D. Manuel de Almeida Trindade (1962-1988)4) D. António Baltasar Marcelino (1988-2006)5) D. António Francisco dos Santos (2006 -)." Fonte: Anuário da Diocese de Aveiro e Museu S.Pedro da Palhaça.

sábado, 2 de agosto de 2008

Deus nas mais pequenas coisas.

A ideia de falar ou de escrever sobre Deus constrange-me sempre um pouco. Um pouco muito. Mas é corrente pensar sobre Deus. Diariamente. Ou por uma questão de beleza, de natureza, de maldade, de violência, de necessidade, de justiça, de vida ou de morte, de correcção ou incorrecção. Enfim, Deus encontra-se em tudo na vida, quando pensamos ou quando agimos. É um padrão omnipresente que regula, ou melhor, que se apresenta como regulador, da nossa conduta de vida. Antes regulasse automaticamente. Pois a diculdade da vida é, precisamente, viver em Deus. Há muito que penso em Deus. E em Jesus Cristo. Humanamente. Com a limitação que tenho em ser humano, com toda a dúvida e insegurança que lhes estão associadas. Vejo Deus em muitas coisas. Nas maravilhosas, em como Deus as torna assim. E nas menos felizes, que me levam a pensar no nosso livre arbítrio, ou no livre arbítrio da vida. A capacidade de aceitação das nossas vicissitudes não nos deixa outra hipótese senão acreditarmos que temos um Pai, e que Ele olha por nós. É neste sentido que Deus nos é indispensável. É o que nos dá sentido à vida. Mas Deus está nas mais pequenas coisas. E são as pequenas coisas suficientes para a nossa sobrevivência nesta etapa terrena. Haja a nossa humildade e contenção. E aceitação. E para esta etapa Deus deu-nos tudo, com excepcional luxo. Um bom exemplo disso é a fruta. Quando, num tórrido dia de sol, como um pêssego fresco, gosto de olhar para uma ávore enquanto o como. E sinto que Deus, criando a ávore, me deu aquele fruto que mata a minha sede. A natureza dá-nos o alimento. Mas mais. Deus não criou apenas o pêssego. Como que querendo agradar a todos, Deus criou centenas de frutas, para que a todos agradasse. E quem não gosta de pêssego, terá ao seu dispor outras tantas frutas que alimentam e matam a sede e a fome. E sabem fantasticamente. As frutas não custam quase nada. Se tratarmos a terra cuidadosamente, e dar-lhe o tratamento proporcional à sua dignidade de Mãe. Mãe que dá o alimento, que mata a fome e a sede. Deus dá-nos, portanto, tudo e variado. Nós é que não queremos tudo o que Deus nos dá. Porque, por arrogância, procuramos concretizar objectivos que não são de Deus, são nossos, e não são importantes. Sequer para nós. Outro problema é que nós julgamos saber o que é bom para nós. É neste contexto que eu acredito que haja uma ligação muito estreita entre Deus e a Terra. E que a Terra, por criação de Deus, poder-nos-á amar tanto quanto o próprio Deus, porque nós habitamos nela, e dela temos tudo.